O intelectual Raduan Nassar e o político hipócrita Roberto Freire

Claudio Guedes 

O intelectual e o político hipócrita.

Hoje, 17/02, ao receber o prêmio Camões, o escritor Raduan Nassar usou o espaço que tinha direito para fazer um pronunciamento político. Intelectuais fazem política à sua maneira e aproveitam os momentos em que são homenageados para soltarem "o verbo". É praxe, é da democracia.

Em seu discurso de apenas duas páginas, concluído com a frase "O golpe estava consumado. Não há como ficar calado", Raduan fez uma dura crítica à política no país. Matéria do UOL/Folha traz os detalhes do discurso e da reação que provocou no representante do governo ao evento.

O primeiro criticado por Raduan foi o ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes. Ele acusou Moraes de ser o responsável pela invasão de escolas ocupadas, pela prisão recente de Guilherme Boulos e de "violência contra a oposição democrática" que se manifesta nas ruas.

"Esta figura exótica agora é indicada ao Supremo Tribunal Federal", disse o autor. "Esses fatos configuram por extensão todo um governo repressor. Governo atrelado ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração de riqueza."

"Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal", afirmou o autor, criticando ainda a decisão do STF que permitiu a Moreira Franco virar ministro.

"Em sua decisão, o ministro [Celso de Mello] acrescentou um elogio superlativo a Gilmar Mendes por ter barrado Lula para a Casa Civil. Dois pesos e duas
medidas."

Raduan ainda elogiou a ex-presidente Dilma, a quem chamou de íntegra. "Não há como ficar calado", concluiu.

Roberto Freire, ministro da Cultura e presidente do PPS, não gostou do que ouviu. Sempre deselegante, quase sempre grotesco, resolveu repreender o homenageado. Primeiro ao inverter a ordem dos discursos, pois a norma é o homenageado encerrar o evento. Sempre. É da liturgia urbana, civilizada. Depois por contestar o discurso do homenageado em termos inapropriados.

A festa era do intelectual, que tem o direito de se manifestar da forma que quiser. "Permitimos que o agraciado dissesse o que quisesse e imaginasse", rebateu Freire, que ainda qualificou o protesto de Raduan como "histriônico".

Um homem pequeno, um medíocre, Roberto Freire, se julga um poderoso da República. Observem os termos: "Permitimos que o agraciado ...". Por que um intelectual premiado precisaria da permissão dele para dizer o que pensa sobre o momento do país?

Por quê?

É a lógica dos golpistas, dos que escracharam a democracia no país. Freire dirige um pequeno partido, que foi criado no desaparecimento do Partidão, e o transformou em linha auxiliar dos tucanos paulistas. É cúmplice e sócio destes nas artes & artimanhas que permitem a manutenção de longa hegemonia em SP e posição relevante no país.

Hoje mostrou sua face desprezível, querendo censurar o pronunciamento de um intelectual aclamado.
Roberto Freire e seus defensores são figuras que não merecem respeito, são a face sórdida da hipocrisia dominante no país.

As vaias que recebeu no Museu Lasar Segall são a prova que ele "et caterva" cada vez enganam menos as pessoas.

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