Marisa Letícia, um depoimento


De dona Marisa Letícia, pouco sei. Ela nunca foi personagem pública, nunca buscou holofotes. Sei que ela sempre enfrentou de cabeça erguida o ódio que as elites lhe devotavam, por ser mais uma que ocupava um lugar que "não lhe cabia". Sei também que, em meio à indignação com as gravações ilegais e os vazamentos bandidos para a mídia, eu me senti de alma lavada ao ouvi-la mandar que enfiassem as panelas naquele lugar.

Mas reproduzo aqui o depoimento de Murilo Silva, que permite vislumbrar um pouco o ser humano
que ela foi:

"Em julho de 1983, quando retornava sozinho de reunião do coletivo estudantil do PT, em Brasília, fiquei impedido de seguir viagem - sem dinheiro e sem comida - no terminal rodoviário Tietê (SP), por causa das enchentes no Sul do Brasil. Peguei uma lista telefônica e liguei para a casa de Luiz Inácio da Silva (ainda não tinha LuLa no nome), me identificando como petista de Florianópolis, para pedir abrigo e comida. Atendeu Dona Marisa, dizendo que Lula estava em Cuba e que ficaria chato me receber assim. Porém, aflita com minha situação, mandou eu vir. Consegui dinheiro com um desconhecido que tinha em mãos um livro de Marx (era mineiro e depois devolvi o valor por carta). Peguei ônibus para São Bernardo do Campo e ao chegar na casa de Lula, dona Marisa já estava me aguardando com um lindo sorriso, junto de um casal de vizinhos, na porta de casa. Me abraçou e me acolheu como um filho e me deixou com eles, que me hospedaram por três dias. Nunca mais estive pessoalmente com esta mulher, cuja simplicidade e o carinho jamais esquecerei."

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