Luis Felipe Miguel
Nunca consegui me interessar pela literatura de Ivana Arruda Leite, mas hoje, pela primeira vez, li um texto dela até o final. É o artigo na Folha em que ela fala mal de Raduan Nassar.
Ela assume uma posição olímpica, reclama de tudo e de todos, mas acaba por reprisar os argumentos de Roberto Freire. Raduan não podia ter "falado de política". Raduan não podia ter aceito o prêmio se julga que o governo é golpista. Raduan é dinheirista.
São argumentos risíveis, que não só ignoram a diferença entre Estado e governo (que ela, que é anunciada como "mestre em sociologia pela USP", devia compreender melhor) como também não entendem o que fez Raduan como intelectual público, aproveitando uma oportunidade para furar o bloqueio da mídia e
passar sua mensagem com o maior impacto possível.
(Quanto ao dinheirismo, seria curioso alguém doar à universidade uma fazenda de 11 milhões de reais, em valores de 2011, para cobiçar um prêmio de cerca de 300 mil.)
Mas o foco principal de Ivana são as pessoas que a criticaram quando ela externou essa posição no Facebook. Ela os chama de "fascistas", que conceitua, mais uma vez fazendo troça de seu próprio mestrado, como "quem não admite que você tenha opinião contrária". Tão tolerante, ela chama aqueles que externaram opinião contrária a ela de "alcateia petista ignara", "torcida enlouquecida do burro-petismo", diz que "babavam", "soltavam fogo pelas ventas" e pede que "voltem para o inferno de onde vocês saíram".
Assim aberta ao diálogo, claro, ela optou por transferir a discussão do Facebook, onde pode ser respondida, para um jornal onde fala sozinha. E ainda aproveitou para dar uma puxada de saco, no final do texto, colocando "jornal golpista" entre aspas, como se essa não fosse a descrição objetiva da Folha.