É injusto afirmar que Moro matou Marisa Letícia?

Não dá para dissociar o AVC de Marisa Letícia da Lava Jato

Arrisca ser uma simplificação culpar diretamente o juiz Sérgio Moro pela morte da ex-primeira dama Marisa Letícia.

Mas como dissociar seu AVC da pressão a que estava sendo submetida?

Em 1997, o jornalista Elio Gaspari colocou o infarto de Paulo Francis na conta de Joel Rennó, ex-presidente da Petrobras que acionou Francis nos EUA.

Rennó, escreveu Elio, era um “estrategista vitorioso” porque “seu processo ocupou um espaço surpreendente na alma de Francis”.

Na quinta-feira, dia 2, Lula e a família autorizaram a doação dos órgãos e agradeceram as “manifestações de carinho e solidariedade”.

Marisa passou mal no apartamento do casal em São Bernardo do Campo no dia 24 de janeiro. Chegou consciente ao hospital Sírio Libanês, em São Paulo, passou por cirurgia e foi conduzida à UTI.

Piorou paulatinamente.

Marisa estava fumando mais. Em 2007, o
cardiologista Roberto Kalil Filho avisara que ela precisava de tratamento e que poderia ter um AVC. Nada foi feito.

A Lava Jato abriu cinco ações penais contra Lula, sendo que em três delas Marisa estava incluída entre os acusados. Foram mais de dois anos de massacre midiático diuturno, com direito a uma condução coercitiva do marido.

Os homens de Moro vazaram um áudio de um telefonema com seu filho Luís Cláudio. O papo, embora banal, continha um elemento explosivo.

Ela xingava os “coxinhas”. Dizia querer que essas pessoas “enfiassem as panelas no cu”.

Qual a intenção de tornar isso público, senão a de humilhar e constranger? Por que com ela? Onde estão as conversas das mulheres de outros réus?

A gravação está sendo usada pelos milhões de cidadãos de bem que agora festejam a tragédia de Marisa Letícia. Ela sabia de tudo, ela era cúmplice, ela era rica — e ela mandou os brasileiros honestos enfiarem suas panelas naquele lugar.

Para os fascistas que o golpe tirou do buraco, a boca suja teve o que mereceu.

A Lava Jato ocupou um espaço enorme na vida de Marisa Letícia. Migramos do país da impunidade para o país dos justiceiros — sem escalas. Vítimas fatais são inevitáveis.

É injusto afirmar que Moro matou Dona Marisa.

Mas a estratégia da Lava Jato previa a cabeça de Lula na parede. Ganhou a da mulher dele, da pior maneira possível.

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