Luis Felipe Miguel
O Natal nos trouxe a morte de Luiz Carlos Ruas, assassinado por "pessoas boas" quando defendia duas travestis de uma agressão. O Ano Novo, a chacina de Campinas, por um justiceiro dedicado a eliminar "vadias". É o Brasil de sempre: homofóbico, misógino, indiferente, violento.
Mas a carta do atirador de Campinas é reveladora de como o discurso de ódio da extrema-direita brasileira está alimentando a brutalidade da nossa sociedade. Sim, ele era um "desequilibrado". Mas um "desequilibrado" que encontrou estímulo e legitimação no discurso protofascista de bolsonarianos, revoltados online, olavistas e similares, que execra os direitos humanos e estabelece que há categorias de pessoas que podem e devem ser agredidas, como as "vadias", que merecem ser afastadas de cargos públicos ou mortas. A ligação sem escalas entre a presidente destituída, a ex-esposa e as outras mulheres da família que ele odiava, todas incluídas no mesmo balaio de pessoas a serem eliminadas, é um dos elementos mais impressionantes da carta do assassino.
Sem o discurso de ódio dos extremistas de direita a chacina teria sido perpetrada do mesmo jeito? É provável. O caldo de cultura do machismo continuaria presente e ele é o componente fundamental. Mas esse discurso - além de atrapalhar o combate necessário e urgente ao machismo, à homofobia, ao racismo - fornece vários atalhos úteis para a racionalização e legitimação da violência embasada no preconceito. É importante refletir sobre os efeitos que a degradação do debate público, gerada pela agressividade verbal sem precedentes da direita extremada, está causando.