Reinaldo Del Dotore
O pai matou o filho (isso nunca vai entrar na minha cabeça!) a tiros, porque o filho participava de uma ocupação em escola. Logo após, o pai se matou.
Uma tragédia terrível, alimentada pela interminável espiral de ódio que tomou conta do país, aprofundada depois de Aécio, o playboy mimado, não admitir a derrota.
Quais as manifestações que leio pela internet?
- Esquerdinha, já foi tarde. Pena o pai ter se matado!
- Pobre desse pai!
- Um comunista a menos. Vamos homenagear esse pai!
Nossa sociedade está
doente, e a doença é terminal. O Brasil parece aquele seriado da moda, em que monstros são criados diariamente, a partir do nada. Um país de monstros.
É necessário cuidado ao entender a tragédia de Goiás. O pai que matou o filho e se suicidou era um direitista feroz, mas era também um desequilibrado. Não me parece razoável dizer "matou por causa da polarização política". A polarização política foi o estopim de um assassinato que seguramente encontra causas mais profundas.
O que não arranja outra explicação é a profusão de comentários, nos sites e redes sociais, de pessoas aplaudindo a morte de um "esquerdista" e afirmando que se trata de um "exemplo" a ser seguido. O que o discurso da extrema-direita consegue tocar para gerar esse tipo de reação, de uma desumanização total, aberrante, assustadora? Se, como dizia o velho Marx, não existe natureza humana fora da sociedade humana, a nossa sociedade, que produz essa "natureza", está mesmo doente terminal.