Por André Araújo
A História da humanidade tem 100 séculos de registro, a chamada história conhecida. Nesse período, a regra é o imponderável, o imprevisível, acaso, o impensável, mas com toda essa longa experiência, o homem continua a tentar desvendar o futuro insondável, algo que está além de sua capacidade.
Essa História foi construída por uma série de cruzamentos de variáveis e seus protagonistas centrais foram aventureiros, profetas, piratas, conquistadores, muitos surgidos das profundezas da sociedade da época e que mudaram o rumo da história de seus tempos.
Quem em julho de 1789 poderia imaginar que surgiria para comandar a França um italiano baixinho de cidadania francesa, um certo Bonaparte que virou a Europa de ponta cabeça e fez o Brasil virar Império?
Quem em 1919 nos escombros da paz de Versalhes poderia imaginar que surgiria um pintor austríaco fracassado que chegou a passar noites nos bancos dos jardins de Viena e que iria incendiar o mundo 20 anos depois?
Os marujos aventureiros que saíram de portos europeus sem saber para onde iam e se voltariam vivos descobriram a América onde chegaram sem saber onde estavam. Um futuro de incertezas e de imprevistos é a regra e não a exceção da história humana conhecida.
A eleição de Trump se insere nos imponderáveis da História, aconteceu por um cruzamento de variáveis que ele, por intuição, descobriu e que os "científicos" não enxergaram porque estes pretendem ser racionais e tirar conclusões da racionalidade enquanto a história real é irracional e seus agentes verdadeiros operam pela intuição e não pela racionalidade.
Trump é um aventureiro nato, amante do risco, quebrou várias vezes e se reergueu, algo difícil em qualquer lugar, quebrou porque arriscou demais, o que dá uma ideia de como opera esse homem que representa o espirito da era das diligências que constrói o Pais de fato.
Quebrou, não paga imposto de renda há 40 anos, apesar de ser muito rico, sem se saber quanto rico é, teve na vida 4.000 processos e responde atualmente a 75 de todos os tipos, está de bom tamanho ou querem mais?
Trump é um americano profundo, os EUA foram construídos por esses tipos, foram eles que construíram as ferrovias, os famosos "robber barons", os barões ladrões, raiz de grandes fortunas icônicas como Vanderbilt, Astor, Stanford, Harriman, Hopkins, Rockefeller, os EUA foram construídos por aventureiros dessa moldura de Trump, ele resgata das profundezas da alma do País esse espirito do faroeste e foi isso que encantou a população do pais profundo farta das políticas pró-minorias que tanto destoam da imagem que eles tem do próprio Pais e de suas glorias passadas que fizeram dos EUA o farol do mundo por boa parte do século XX.
style="text-align: justify;">De lá para cá surgiram os "movimentos sociais" que foram tomando conta de Washington até atingir seu apogeu na eleição de Obama, o máximo representante desses movimentos e dessas minorias. Hillary continuaria a representar esse espectro da população americana, deixando mais uma vez órfão o "centro" social, étnico e cultural da maioria branca se sentindo abandonada em favor dos negros, latinos e esquisitos de todo o mundo.
Esse "centro" abandonado se uniu pela retorica popularesca de Trump e disse um basta aos excessos do grupo pró-minorias que também perdeu a mão ao não perceber que tinha esquecido do centro do País que não se via por ele representado e muito menos seria representado por Hillary, uma espécie de herdeira necessária de toda essa corrente.
A eleição de 8 de novembro desmonta mitos e cenários, certezas e planilhas, acaba com a ciência econômica certinha e encaixada. Cada coisa em seu lugar, meta de inflação bem calibrada e política monetária tudo calculado matematicamente dentro da melhor teoria de Chicago pré-2008 e que não vai dar certo porque a calculadora jamais calculará o insondável futuro, a aparição do fantasma Trump acaba com a estupida certeza das políticas de austeridade como fonte de bonança através da piada da "conquista da confiança", toda uma falsa ciência a alicerçar políticas econômicas basicamente erradas que não levam a lugar algum pilotadas por medíocres como Meirelles e Goldfajn para embelezar seus currículos junto ao mainstream das cortes monetaristas de Wall Street e Washington.
Desmonta também as doutrinas de transparência necessárias aos homens públicos, logo um sujeito com vida financeira absolutamente não transparente, acaba com as certezas das políticas de "mãos limpas", afinal Trump não tem limpeza alguma em nada de sua vida e no entanto chegou a chefia da maior nação do planeta em influencia geopolítica por esses golpes que a vida dá e que se dá na vida, a única certeza é que Trump não é um homem padrão da Casa das Garças e dos cursos do Insper.
Trump desmente os certinhos, os bem pensantes, os homens de carreira linear e cargos irremovíveis, desmente o "establishment", os compliace men, os auditores, os fiscais das leis, os movimentos moralistas, os politicamente corretos, nada mais politicamente incorreto que esse homem complicado, esperto e nada santo, no entanto foi eleito para o alto cargo.
Quanto aos efeitos práticos, não se sabe exatamente o que ele vai fazer mas sabe-se que ele vai desmontar muitas políticas que vinham se consolidando há décadas, como a defesa cada vez maior das minorias, o cerco sistemático aos empreendedores de negócios, em um mundo empoderado por ecologistas, promotores e fiscais de tudo hoje não poderia ser construído o Canal de Suez nem o Canal do Panamá tais as exigências que travam o crescimento mundial através das barreiras à circulação do dinheiro, toda a atividade empreendedora hoje tem tantos inimigos e controles que muitos não mais se arriscam, Trump é uma espécie de buraco no muro erguido por movimentos sociais, cruzadas politicamente corretas que começaram com toda força a partir de 1968 na Europa e chegaram nos EUA com força em reação à guerra do Vietnam e que nos seus desdobramentos passaram a influenciar e depois a controlar a política, hoje o Partido Democrata dos EUA é prisioneiro desses movimentos e dessas minorias, a reação a eles veio por canais imprevistos, no caso Trump.