Os pronunciamentos de Bernie Sanders ("estamos dispostos a trabalhar com ele" em tais itens); de Angela Merkel (cobrando compromissos com a agenda dos conflitos culturais); de Marine Le Pen (contra a globalização, a ocupação da Europa e as guerras no Oriente Médio); de Vladimir Putin (propondo nova relação com os Estados Unidos) - o conjunto deles -, podem explicar a amplitude do clamor que se manifesta em milhares de discursos bem pensantes.
Torna fácil entender tanto a resposta crítica imediata do poderoso Conselho de Relações Exteriores quanto o espaço que a TV abre para socialistas
revolucionários que jamais puderam aparecer em programa algum nos Estados Unidos; o editorial do Globo e a mobilização frenética da Globonews.
Suponho que eles temam o resultante, ainda que temporário, dessa convergência de forças, representando interesses, até agora difusos e tidos por incompatíveis, que têm em comum o combate ao sistema financeiro global que domina o mundo, ou quase todo ele, e às políticas que o viabilizam.
A moderação expressa nos títulos de hoje dos sites integrados à banda mídiática mundial não reflete as enfurecidas primeira páginas da mídia americana. Nunca vi o New York Times tão enfezado; o Washington Post destaca os obstáculos "políticos e legais" que o novo governante enfrentará; e Los Angeles Times abre manchete para um protesto de jovens que não é lá essas coisas. Na Europa, o Guardian, tido por esquerda (qualquer veículo que faça jornalismo de vez em quando fica com essa fama), destaca a segunda parte da declaração do Sanders (sobre temas culturais, contra), escondendo a primeira (sobre políticas que beneficiam trabalhadores - as que importam - a favor); a mídia inglesa em geral acompanha o horror americano e o francês Le Monde informa que os mercados, após queda, "se estabilizaram", o que é um pouco diferente da versão brasileira, "se recuperaram".