A mídia a serviço da extrema-direita


Luis Felipe Miguel

A manifestação do dia 29, contra a PEC 55, não existiu na imprensa. Aliás, a própria votação no Senado foi uma ausência no noticiário. Antes mesmo do desastre da Chapecoense, já havia a votação das "dez medidas contra a corrupção", programada para o mesmo dia, sob medida para desviar a atenção da PEC.

A manifestação não foi anunciada, não foi coberta e só entrou no noticiário depois que a brutalidade policial começou - e aí o tom era a denúncia do "vandalismo" dos manifestantes.

Já a manifestação de ontem foi propagandeada por semanas,
ganhou cobertura ao vivo e hoje está nas capas dos jornais. Longe de qualquer "espontaneidade", seus participantes ficaram bem enquadrados no espectro de posições que os organizadores aceitavam: viva Moro, viva Dallagnol, fora Renan, abaixo o Congresso, cadeia para Lula, intervenção militar já. Nada de "fora Temer", nada de Furnas, de helicóptero do pó, de metrô, de merenda escolar, de Chevron, de propina na Suíça. E nada, obviamente, que fizesse alguém acreditar que o Brasil tem outros problemas além da corrupção.

O comportamento da mídia obedece a dois objetivos, que já ficaram muito claros há tempos. Primeiro, o fechamento da pauta política na questão da corrupção.

Depois, a afirmação da extrema-direita como ator político relevante. Não sei se há de fato a simpatia das empresas de mídia pelo "ideário" de MBL, Vem Pra Rua e assemelhados, se há compromissos assumidos com os financiadores destes movimentos ou se é apenas a maneira de manter viva a brutalidade contra qualquer posição progressista.

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