Cartinha aberta a um negociante de sentenças


Não estranhe eu lhe tratar por você. Você tem idade de ser meu filho, e excelência só uso para os excelentes, ainda que analfabetos e humildes, mas com caráter.

Você formou-se nos Estados Unidos, absorvendo a ideologia dominante lá, depois fez cursos de especialização no Ministério Público de lá e nos serviços de inteligência de lá, o que o faz em perfeita identidade e sintonia com os de lá, a ponto de você, pública e descaradamente, dar assessoria a escritórios de advocacia de lá, para exigirem gordas indenizações das nossas empresas, aqui.

Você vai lá pelo menos uma vez por mês, para orientar e receber orientações, e tem como mister, esfacelar a esquerda brasileira e destruir a Odebrecht, por motivos óbvios.

Nas suas palestras e conferências o que mais ouvimos é “nos Estados Unidos”.

Até aqui temos um problema político econômico, criminoso no âmbito social, mas questionável se imputado a um juiz, embora de primeira instância, degrau primeiro, ao rés do chão, de longa escadaria.

A questão é outra: nessa ideologia que você professa, defende e põe em prática a máxima é que “business is business”, negócio é negócio, o que reduz tudo e qualquer coisa a negócios, transações comerciais.

Assim, por definição, qualquer trabalho, prestação de serviço ou favor deve ser remunerado, a priori ou posteriori. 

Não sendo, cabe ao beneficiado gratificar, normalmente em espécie.

Esta é a regra do jogo, sabemos todos.

Não foi por outro motivo que, acima do STF, do Estatuto do Funcionalismo Público e da própria Constituição, você fez acordos na Europa e nos Estados Unidos, para ter até 15% do dinheiro reavido da corrupção, caso único na história do Brasil, de funcionário público ter remuneração paralela pela execução de serviço para o qual é remunerado pelo povo.

Em caso polêmico, para ser brando no linguajar, você aliviou praticamente todos os membros de vasta quadrilha, que desviou cerca de meio trilhão de reais do Banestado, com todo mundo impune e a dinheirama não ressarcida.

E aí? De graça? Business is business.

Você está municiando empresas estrangeiras, para que se capitalizem a custa de indenizações, a partir das suas informações. De graça? Business is business.

Na medida em que a Odebrecht perde obras, aqui e no exterior, desempregando, é substituída por outras empreiteiras, diretamente beneficiadas por suas ações. De graça? Business is business.

A cada golpe contra a Petrobras ela sente, as suas ações caem, diminuindo o seu poder comercial, o que beneficia diretamente as suas concorrentes. De graça? Business is business.

Você está perseguindo impiedosamente a uns e deliberadamente aliviando outros. Alivia por amor a uma causa, pelos lindos olhos dos aliviados, de graça? Business is business.

Moro, se sobre você fossem feitas as mesmas investigações que você faz sobre os que considera desinteressantes e prejudiciais ao sistema imposto pelos do norte, do qual você é representante aqui, usando os mesmos critérios e jogadas acima da lei, concluiríamos que você tem patrimônio compatível com o seu salário de oitenta e quatro mil reais ou descobriríamos que o seu modus operandi não difere dos que você nomeia réus?

Descobriríamos patrimônio clandestino no exterior, contas secretas, evasão de divisas, lavagem de dinheiro ou no seu caso, único entre os seus pares, business is not business, contrariando tudo o que você advoga?

Todo esse seu empenho, aqui e no exterior, diuturnamente é só porque você é um cumpridor do dever ou há mais por trás?

Todos os milhões de dólares que caem nas continhas dos beneficiários das suas decisões, caem por acaso, sem que você nada tenha feito, deliberadamente, para isso?

Afinal, business is business, de acordo com a sua filosofia, ideologia e ações.

De você nunca terei as respostas, mas, mais adiante, passado o temporal do arbítrio, saberemos todos.

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