Claudio Guedes
Uma quase fraude
O listão do Fachin, do STF, preparado a partir do trabalho do Janot, da PGR, com base nos acordos (sic) de delação premiada dos donos e executivos da Odebrecht, é um faz-de-conta gigantesco do que na verdade se passa - e se passou nos últimos anos - nos intestinos da politicagem nacional.
Foi tudo trabalhado, esmerilhado, ao sabor dos senhores togados e da alta elite (sic) política. Dos que fazem discursos veementes de combate à corrupção mas que, na solene tradição tupiniquim, só tocam as margens do problema, num jogo armado de manutenção do status quo.
O que começou, quase por um acaso, como uma ação de combate à corrupção, se desenvolveu a partir das escolhas do juiz e dos procuradores da operação lava-jato - escolhas de cunho partidário, que os levaram a buscar um protagonismo político que a Constituição e as Leis lhes negavam - em uma ação contra um governo eleito e contra o partido vencedor dos últimos pleitos federais, partido cuja existência nunca foi bem digerida pela elite econômica do país.
A longa e interminável prisão preventiva do dono da maior empreiteira nacional e de um dos maiores grupos empresariais do país, foi determinada, ao arrepio da lei e do CPP, unicamente pois o juiz e sua força-tarefa de cruzados imaginavam obter deste uma delação "bomba" que permitisse a prisão do ex-presidente Lula, a defenestração da presidente eleita em 2014 e o banimento do PT do sistema político.
Conseguiram, em parte, o objetivo pelo qual trabalharam. Mas ninguém tudo pode. A delação, claro, acabou saindo, mas não do jeito que suas excelências imaginavam.
Apenas porque se é
possível manipular alguns fatos e algumas histórias, não é possível manipular todos os fatos e reescrever toda a história, como sempre foi o desejo dos grandes barões da mídia - em particular da Rede Globo, o maior complexo de comunicação do país -, da elite das finanças e dos adversários mais duros do PT.
E lá nave vá ...
O objetivo destes, com a ajuda inestimável da República (sic) de Curitiba, sempre foi destruir o PT e salvar os seus velhos e confiáveis parceiros defensores de um projeto de nação excludente e que privilegia os mais ricos e poderosos.
Como delatar políticos que receberam favores da construtora baiana sem citar os grandes, os realmente grandes, beneficiários dos esquemas nos últimos vinte, trinta, anos? Como? Não seria possível e assim chegamos ao listão do Fachin.
De tudo um pouco, do muito apenas um pouquinho.
Misturando os bois gordos, muito gordos, com muito apetite, não de hoje, mas desde sempre, com uns boizinhos magros, que às vezes recebem uma graninha dos poderosos para as suas campanhas - seja por relações de amizade, seja porque é sempre bom soltar um dinheirinho para os adversários, pois o futuro é quase sempre uma incógnita (assim pensam muito poderosos que atuam nos bastidores do estado), esse é o listão!
Não se iludam, o listão é uma quase fraude, onde podia ser contundente e profundo foi suavizado, muito suavizado.
De qualquer forma, mostrando que os tucanos são apenas os mais falsos de todos os que se fantasiaram nos últimos anos de vestais da República, o atual presidente do PSDB, o mineiro guloso, Aécio Neves, lidera, com seu colega de Senado, o indefectível Ramiro Jucá, os que carregam no peito cinco estrelas.
E no listão nem faltou o falso moralista, linha auxiliar dos tucanos paulistas, o ex-pernambucano, Roberto (Bob) Freire, atual ministro da Cultura, que empregou no seu gabinete 18 correligionários do PPS, partido do qual é presidente e cujo dístico é "verdadeiro, corajoso e decente".
E lá nave vá ...