Luis Felipe Miguel
Não vou retornar à minha velha polêmica contra os métodos de análise da mídia baseados na "valência" de seus conteúdos. Mas o "manchetômetro" da ombudsman na Falha de hoje merece um comentário. Paula Cesarino Costa sustenta que que o jornal foi imparcial com base em uma contagem de manchetes. Embora fossem majoritariamente negativas para Dilma e positivas para Temer, isso se explicaria pelas circunstâncias - como ela diz pedantemente, os "vetores político-noticiosos ... eram contrários a Dilma".
Está aí a velha ideia de que existem "valores-notícias" independentes das escolhas do próprio jornalismo.
Mas também não vou disputar isso. Mesmo que a contagem da ombudsman esteja correta, ela deixa de fora o central: tudo aquilo que o jornal não noticiou ou subnoticiou ao longo do processo de derrubada da presidente. Isto é, tudo aquilo que atingia Temer e a quadrilha que com ele chegou ao poder. E também tudo aquilo que foi inflado e ganhou no noticiário um espaço desproporcional, como no cerco, ainda em curso, ao ex-presidente Lula.
Fica provado, uma vez mais, que "ombudsman" é só o nome de fantasia para a relações públicas da Falha.
Paula Cesarino Costa é uma jornalista experiente demais para não saber que sua contagem de manchetes está longe de esgotar a investigação sobre a manipulação da informação. A Falha contribuiu ativamente para a construção de uma representação da realidade que tornava a derrubada da presidente algo tanto necessário quanto inevitável; e usou, como sempre, suas pitadas de "imparcialidade", sempre insuficientes para se contrapor à narrativa dominante, para legitimar sua posição.
Fica provado, uma vez mais, que "ombudsman" é só o nome de fantasia para a relações públicas da Falha.